Após o estágio na Holanda e na Alemanha embora ainda não exista uma ideia clara sobre qual vai ser o onze que Nuno Espírito Santo vai utilizar como base, pelo menos para os observadores exteriores, não deixa de ser claro que há ideias base que vão moldar o jogo do Porto na época 2016/17. Com posse de bola o Porto atacará preferencialmente em 4-3-3 e sem posse de bola a defesa será organizada em 4-4-2, com Corona a ficar menos envolvido nas tarefas defensivas.
4-3-3 com um médio defensivo
4-3-3 com um médio defensivo
Este foi o esquema preferido de NES quando o Porto estava em organização ofensiva ao longo dos jogos. Quatro defesas, um médio defensivo com capacidade de construir, dois interiores muito móveis, dois extremos bem abertos e um ponta-de-lança móvel.
As laterais deverão ser asseguradas por Maxi Pereira e Alex Telles, visto que este último foi uma opção de NES. No entanto, Layún já mostrou, quer no estágio, quer na época passada, capacidade suficiente para ser titular em qualquer dos flancos.
Neste esquema não faz muito sentido a entrada de Danilo, visto que jogadores como Rúben Neves ou Evandro asseguram uma muito melhor saída de bola evitando que sejam os interiores a baixar junto aos centrais para pegarem no jogo.
Neste sistema, João Carlos Teixeira e Herrera serão os candidatos naturais a ocuparem as posições de interiores, embora André André não seja um elemento totalmente descartado. Josué, dada a sua criatividade seria sempre uma boa opção para este esquema táctico, embora a sua pouca utilização no estágio não indique que venha a ser uma opção habitual durante a pré-época. Bueno é um elemento que terá maiores dificuldades em jogar neste sistema, não porque não tenha capacidade, mas porque estará muito afastado da área, perdendo assim parte da sua mais-valia que são os desequilíbrios junto da área adversária.
Tendo em conta o perfil de Corona e de Otávio, os jogadores que se afirmaram com o melhor desempenho, será necessário que os defesas laterais sejam muito ofensivos por forma a explorar a largura em caso de os extremos procurarem terrenos mais centrais, ou para aproveitar o espaço entre o ponta-de-lança e os extremos, caso estes fiquem nas alas. Este será porventura o esquema mais utilizado contra o Porto no campeonato nacional, dado que a generalidade dos clubes preferirá defender na maior parte do tempo. Brahimi, parece ser um candidato natural ao lugar que Otávio reclamou na pré-época, quer por ter uma maior qualidade técnica, quer por ter maior estatuto dentro da equipa do Porto, mas terá que subir o nível competitivo.
Na frente de ataque, André Silva tem sido a opção mais habitual e partirá para a época, ou pelo menos, desde o estágio à frente de Aboubakar. Adrián Lopez terá algumas dificuldades em se afirmar neste esquema táctico, pelo que nos parece que provavelmente deverá ser novamente cedido.
4-3-3 com 2 médios defensivos
Pouco utilizado no estágio, excepto no último jogo contra o Bayer Leverkusen, este é um esquema que pretende dar maior segurança na saída de bola devido à posição mais recuada de dois elementos. Parece-nos ser claramente um esquema para jogos da Champions, em especial fora de casa e para os jogos com os grandes no campeonato nacional.
Os laterais neste esquema de jogo embora tenham a mesma amplitude de movimentos que no outro esquema, não sobem ao mesmo tempo, sendo que na primeira fase de construção não se projectam por forma a garantir 6 jogadores atrás da linha da bola, evitando assim grandes desposicionamentos em caso de existirem perdas de bola.
Neste modelo é previsível que jogue Danilo, tendo a seu lado a companhia de Herrera ou de André André, jogadores menos criativos, mas mais combativos, isto é, com melhor reacção à perda de bola e mais fortes nos duelos físicos. Obviamente que haverá uma menor qualidade na primeira fase de construção e menos jogadores a aparecerem no último terço do terreno.
Porém , este esquema dá uma maior liberdade ao médio ofensivo, algo que se adapta perfeitamente a um jogador como Bueno, podendo jogar nas costas do avançado a criar desequilíbrios. Outra alternativa devido à sua extraordinária técnica e visão de jogo poderá ser João Carlos Teixeira, embora esteja habituado, pelo menos neste Porto, a pisar terrenos mais recuados onde há mais tempo e espaço para executar. Ainda neste esquema, Adrián Lopez poderá ser uma alternativa, embora não nos pareça ter a criatividade suficiente para o que a posição exige.
4-4-2 em Organização defensiva
O Porto varia as suas zonas de pressão, sendo que regra geral esta se torna muito mais intensa após o adversário entrar no meio-campo defensivo do Porto. Contra adversários de menor qualidade, é expectável que o Porto opte por uma pressão campo inteiro, até perto da área, por forma a recuperar a bola em situações favoráveis e com isso manter o adversário em stress. A pressão do Porto tem sido feita essencialmente sobre o portador da bola e com referências individuais, isto é marcação hxh com os jogadores a saírem ao portador. Normalmente a pressão é efectuada por um jogador, mas em alguns casos dois jogadores tentam cair sobre o portador.
Esta estratégia parece ser acertada contra adversários de menor capacidade, pois ao criar-lhes dificuldades ou os obriga a bater longo permitindo à defensiva do Porto disputar os lances com superioridade numérica e portanto ter muito mais probabilidade de recuperar a bola, ou originará perdas de bola do adversário no seu meio-campo. Contra adversários com maior capacidade, esta estratégia não nos parece muito aconselhada.
Ao fazer a pressão até à área adversária, o Porto sobe as duas primeiras linhas, médios e avançados, mas a defesa tem mostrado recuar o que faz com que o comprimento da equipa aumente e consequentemente aumentem os espaços, em especial entre a defesa e o meio-campo, algo que se via no Benfica de Rui Vitória no início da temporada passada. Outro problema é que a pressão é feita em função do homem, em especial do portador e não das linhas de passe. Um adversário de maior qualidade fará os seus jogadores deslocarem-se criando linhas de passe e permitindo ultrapassar a pressão através de tabelas curtas. Depois de batida a primeira linha de pressão e com espaço entre a defesa e o meio-campo, o Porto torna-se vulnerável a rápidas transições em tabelas.
No seu meio-campo e em organização defensiva, o Porto embora parta de uma posição inicial de duas linhas compactas, como usa como referência o portador da bola, normalmente há um jogador a sair ao portador a tentar conduzi-lo para o corredor lateral por forma a que os colegas sobrecarreguem essa zona para tentar recuperar a bola. Novamente esta opção parece ter riscos associados com a qualidade dos adversários. A consequência de sobrecarregar no corredor lateral do lado da bola, leva a abrir espaços no corredor central, pelo que uma rápida mudança do centro de jogo poderá criar desequilíbrios na defesa do Porto. A questão da saída ao portador da bola, permite a que equipas que joguem bem em tabelas consigam criar situações de superioridade devido à forma como os jogadores abordam as jogadas.
Na defesa, Chidozie e Reyes são claramente as segundas opções para NES, embora Filipe continue a ter uma, por vezes duas falhas graves durante o jogo, seja de concentração como foi na primeira parte contra o Leverkusen, seja de abordagem aos lances como foi no golo alemão. Na lateral direita Maxi parece não ter concorrência à altura enquanto que do lado esquerdo, embora seja aposta do treinador, Alex Telles ainda não mostrou estar ao nível de Layún.
No ataque também não parecem existir grandes dúvidas, André Silva como referência central e Corona e Otávio nas alas parecem partir em vantagem sobre Aboubakar e Brahimi, visto que Ricardo Pereira claramente não demonstra o mesmo nível de qualidade. Aliás, a possível contratação de Rafa tiraria qualquer espaço a Ricardo Pereira, isto sem contar com Varela, que com NES, apenas parece fadado para ser uma longínqua opção para lateral-direito.
As grandes dúvidas situam-se no meio-campo. Ainda sem Danilo, várias foram as combinações que NES experimentou ao longo do estágio. Danilo tem um perfil muito diferente dos outros médios, estando mais vocacionado para a recuperação de bola e para os duelos individuais, do que para a construção com qualidade. Neste sentido, além de Josué parecer ter perdido o comboio, é provável que Evandro seja outro dos sacrificados, pelo que o triângulo de meio-campo deverá sair do seguinte lote de opções: Danilo, André André, Herrera, Rúben Neves, João Carlos Teixeira e Bueno. Os primeiros três com maior intensidade, os segundos três com melhor relação com a bola.
Globalmente parece-nos que o modelo de NES está particularmente vocacionado para o campeonato português, em especial para a generalidade dos jogos contra os clubes mais pequenos que não irão assumir o jogo nem têm qualidade para sair a jogar trocando a bola. O maior risco para o Porto pode também vir a tornar-se a maior solução, André Silva. O desempenho do jovem avançado, que tanto o pode guindar a uma transferência milionária como a uma estagnação na carreira, será fulcral para o sucesso do Porto. Prevemos que a grande revelação do Porto venha a ser João Carlos Teixeira, devido à sua recepção orientada, à sua visão de jogo e à sua grande qualidade no momento ofensivo. O grande desafio para este jovem será como se adaptará às funções defensivas e consequentemente como o treinador o enquadrará. Não existam dúvidas, pelo demonstrado na pré-época, o Porto vai ser um candidato real ao título.