Por várias limitações só ontem foi possível ver pela primeira vez o Porto na pré-época. Uma agradável surpresa a forma como a equipa treinada por Nuno Espírito Santo aborda o jogo. O resultado traduz, à semelhança do que aconteceu com o Sporting, o avanço no preparação que o PSV demonstra ter, pelo que não é motivo para qualquer preocupação o resultado obtido.
Na verdade, o Porto controlou o jogo em grande parte do jogo, no entanto mostrou um pouca assertividade no último terço do terreno. Além disso, somou alguns erros individuais na defesa que foram aproveitados pela equipa holandesa para construir um resultado que pouco traduz o que se passou em campo.
PSV 4-3-3
Zoet
Brenet, Isimat, Moreno (Schwaab 61') e Willems
Guardado (Maher 61'), Pröpper e Hendrix
Narsingh (Beto da Silva 84'), De Jong e Pereiro (Locadia 84')
Porto 4-3-3
José Sá
Maxi Pereira (Varela 74'), Felipe (Chidozie 74'), Marcano (Reyes 74') e Alex Telles (Layún 74')
Evandro (Rúben Neves 45'), Herrera (André André 74') e João Carlos Teixeira (Josué 74')
Corona (Ricardo Pereira 74'), André Silva (Aboubakar 74') e Otávio (Brahimi 74')
1-0 Pröpper 24', 2-0 Filipe (autogolo) 34'; 3-0 Maher 76'
Muito interessante a escolha de NES para um trinco com capacidade de construção de jogo com Evandro na primeira parte e Rúben Neves na segunda parte. João Carlos Teixeira mostrou uma grande qualidade e promete ser uma revelação do campeonato. Bom toque de bola, boa visão de jogo, muito associativo, bons passes verticais, compromisso defensivo. Otávio será porventura mais vistoso para a generalidade do público pois provavelmente somará mais golos e assistências, mas será, provavelmente, menos determinante na construção e criação de jogadas.
Nas alas Corona e Brahimi parecem trazer a má forma da época passada, estando provavelmente aberto o caminho para a titularidade de Otávio nas primeiras jornadas. Na defesa, há muito trabalho para fazer, em especial entre os centrais e o lateral esquerdo Alex Telles. Filipe que esteve desastrado contra o PSV, tendo culpas objectivas nos dois primeiros golos, precisa entender que na Europa não há tempo para desatenções ou para abordagens deficientes. Alex Telles também mostrou dificuldades perante um extremo mais virtuoso estando pouco em jogo em termos ofensivos obrigando a que, no seu flanco, a largura fosse dada ora por Otávio ora por João Carlos Teixeira.
Mas se estes erros são relativamente fáceis de corrigir, incluindo as más abordagens de Alex Telles e Filpe, há outro problema mais difícil de corrigir. Várias vezes foi visível a criação de espaços entre os elementos da última linha defensiva devido aos defesas reagirem demasiado ao homem com bola, desposicionando-se e não havendo compensações dos colegas, nem do médio mais defensivo. É possível que este problema seja facilmente resolvido com a entrada de Danilo para a posição de médio-defensivo, mas o perfil deste jogador altera significativamente a forma de construção que o Porto demonstrou.
O Porto mostrou ainda pretender fazer uma pressão muito alta, inclusivamente com três elementos a colocarem-se junto à área adversária, por forma a tentar recuperar a bola numa zona muito favorável. Por vezes estes três elementos têm a ajuda dos dois interiores ou do interior do lado da bola e do médio-defensivo, ou seja coloca 5 elementos no meio-campo adversário a tentar recuperar a bola.
Esta opção dará, com toda a certeza, muitos frutos no campeonato nacional onde as equipas não têm qualidade para trocar a bola e optarão por bater longo onde os 4 defesas terão vantagem perante os avançados adversários. No entanto, perante as melhores equipas, por exemplo equipas de Champions, as trocas de bola com qualidade e a disposição demasiado comprida da equipa são uma fragilidade que originará transições muito perigosas. Aliás, o facto de os jogadores reagirem demasiado ao portador da bola, faz com que tenham sido várias vezes batidos com tabelas, o que mostra que equipas que ataquem através de triângulos podem criar desequilíbrios significativos.
Em organização defensiva, o Porto defende num 4-4-2, com João Carlos Teixeira a fechar ao meio junto do médio-defensivo, Herrera a fechar à direita, Otávio à esquerda e Corona e André Silva a tentarem condicionar os defesas. No entanto muitas vezes devido ao posicionamento profundo da última linha e à tentativa de sobrecarga na zona da bola, aparecem muitos espaços na zona central. Várias vezes a linha média também se mostrou muito afastada da linha defensiva, criando muitos espaço dentro do bloco para os avançados adversários receberem e decidirem.
Mas viu-se outra fragilidade, com a equipa optando por um posicionamento mais profundo com as duas linhas de 4 bem dentro do seu meio-campo e os dois avançados na zona do círculo central e como o Porto tende a reagir muito ao portador da bola, com os jogadores a saírem a tentar pressionar o portador da bola para a recuperar, esses jogadores têm que fazer constantemente sprints de 10, 15 metros, o que normalmente dá tempo ao defesa para tomar uma decisão antes do jogador do Porto chegar. Novamente, esta opção pode ter resultados no campeonato português, mas a um nível superior, dificilmente terá como se viu durante o jogo.
O Porto mostrou ainda uma boa capacidade de reacção à perda da bola, mas alguma dificuldade nas transições defensivas quando o PSV trocava bem a bola. As consequências foram algumas bolas recuperadas no meio-campo adversário, mas também, algumas transições muito perigosas do PSV, quando a primeira fase de pressão era batida. A solução para esta questão passará por um bloco mais alto, evitando que os defesas afundem tanto e se criem os espaços derivado do comprimento a equipa.
Ofensivamente, os laterais pouco se projectam na primeira fase de construção, entrando a bola num dos três médios que optam ou por passes verticais, normalmente Evandro/Rúben Neves e João Carlos Teixeira, ou por lançamentos para as alas sendo Herrera quem mais se destaca neste aspecto. Algumas vezes variam as opções, optando por um jogo mais curto e com menos verticalidade.
Na fase de criação, dada a boa qualidade dos médios e avançados, o Porto consegue manter a posse até poder fazer uma solicitação na profundidade. Se esta opção não aparecer, João Carlos Teixeira e Herrera buscam a referência André Silva dentro do bloco, ou abrem o jogo para que sejam os alas a buscar essa referência central. Maxi Pereira incorporou-se sempre no ataque, ao contrário de Alex Telles que se mostrou mais reservado. Se Maxi na primeira parte serviu para dar largura, na segunda parte já procurou as diagonais para o meio.
Há muito trabalho para fazer e há muito tempo (mais de 3 semanas) para o fazer. A grande dúvida será se NES mudará o perfil do médio-defensivo, o que alterará significativamente a forma de construção, pois obrigará os interiores a recuarem muito mais para pegarem no jogo. De todos os jogadores em campo, João Carlos Teixeira mostrou que pode ser a grande surpresa portista. Talvez a estrutura portista considere que André Silva não terá capacidade para ser o titular, pelo que pode entrar ainda um avançado que altere a organização e transição ofensiva.
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