O adversário foi o Wigan Athletic, que tendo começado a sua reparação com um empate a zero com o Braga, ao terceiro jogo apresentou-se como um bom adversário para um treino mais a sério do Manchester United.
Wigan 4-4-2
Jaaskelainen
Daniels, Morgan, Burn e Warnock
Power, Perkins, Taylor (Barrigan 72') e Huws (Powell 72')
Jacobs e Grigg (Davies 45')
Manchester United 4-2-3-1
Johnstone (Joel Pereira 82')
Fosu-Mensah (Valencia 45'), Baily (Tuenzebe 82'), Blind (Blackett 73') e Shaw (Jones 45')
Herrera (Varela 73') e Carrick (Andreas Pereira 45')
Lingard (Januzaj 45'), Mkhitaryan (Mata 45') e Depay (Young 45')
Wilson (Keane)
0-1 Keane 49'; 0-2 A. Pereira 58'
Sim, esta é a equipa do famoso "Will Grigg's on Fire, Your defence is terrified". E o Will Grigg jogou os primeiros 45 minutos, mas não se deu por ele em campo. Quanto a José Mourinho, se fizer aquilo em que é especialista, que é criar um grupo unido e motivado, em que os jogadores confiam cegamente na sua liderança e entram a 100% em todos os jogos, acredito perfeitamente que no final da temporada estará na decisão da Liga Inglesa. E acontecerá porque se o Manchester United já tinha talento sub-aproveitado, José Mourinho optou por contratar jogadores que sabe que terão rendimento imediato.
Sobre Zlatan Ibrahimovic não é preciso dizer muito, pois todos o conhecem e ao seu enorme talento e capacidade goleadora. Além disso, Zlatan trabalhou com Mourinho no Inter de Milão e conhece o seu método de trabalho. Mas para além de Zlatan, Mourinho contratou um dos melhores médios do mundo ao Borussia de Dortmund. Pode parecer exagerado a quem não seguia a Bundesliga, mas o arménio Mkhitaryan é um talento com uma criatividade enorme e com uma capacidade técnica de igual monta. A capacidade para criar desequlíbrios desta dupla, será o ponto forte da equipa de Mourinho. Quanto a Eric Baily que veio do Villarreal, parece ser um interessante projecto de jogador, não tanto na vertente defensiva, mas antes no que pode acrescentar em termos de passes verticais a partir da defesa.
Mais do que dizer que um treinador presta ou não, pretende-se discutir a abordagem táctica. O que acontece é que o trabalho do treinador não se limita à parte táctica. Existe a parte da liderança, da motivação, da criação de um grupo unido, da potencialização do desempenho dos atletas. Esses são factores de muito difícil observação e a discussão desses factores prende-se essencialmente com o ouvi dizer e com o acho que, pois as conclusões normalmente derivam não da observação directa, mas da observação indirecta. O que pretendemos sempre analisar são os princípios por detrás da forma de jogar.
Em organização defensiva muitas vezes se viram 5/6 jogadores atrás da linha da bola, o que limita severamente a forma de jogar pois estará quase sempre a atacar em inferioridade numérica quer nos corredores laterais, quer especialmente no corredor central. No momento de construção, os laterais não se projectam e mesmo no momento da criação, normalmente, só um dos laterais sobe.
Explicando a terminologia, quando a equipa recupera a bola na sua defesa e começa a construir os lance de ataque, está no momento de construção, normalmente no seu meio-campo defensivo. Quando a equipa que tem a bola, passa para o meio-campo ofensivo, vai começar a ter que criar lances que desequilibrem o adversário, momento de criação. O objectivo é ganhar vantagem, seja espacial - espaço sem adversários, seja temporal - ter tempo para executar sem grande oposição, para que os jogadores da nossa equipa possam finalizar a jogada, momento de finalização.
Nos momentos em que o segundo lateral sobe para responder à variação do centro do jogo (mudança de flanco) e fazer o campo grande (ter jogadores a toda a largura do campo), como parte de posições mais recuadas, normalmente a equipa adversária tem tempo para bascular (mudar o posicionamento em campo, dirigindo-se para o lado onde a bola está) e perde-se a vantagem numérica da variação. Outro dos problemas identificado com os laterais foi que quando sobem com bola no pé, normalmente conduzem-na até a deixarem no pé do extremo, trazendo consigo mais um adversário.
Deve-se referir que há a clara tentativa de manter a posse de bola no momento da construção, mas se o adversário pressionar os laterais ou os centrais e estes não estiverem confortáveis com bola, optam pelo passe em profundidade, normalmente para um dos corredores laterais, o que garante que mesmo que o Manchester United perca a posse de bola, nunca será numa zona que permita um contra-ataque rápido.
Em termos de organização defensiva continuam as referências individuais e a aposta nos duelos físicos. Os médios defensivos baixam para perto dos centrais, formando um rectângulo, por forma a tentar impedir a entrada de bolas no bloco à frente dos centrais. Mas como as referências são individuais, muitas vezes são os próprios centrais que saem da sua posição para irem disputar bolas seja no corredor lateral, seja no corredor central mas muito longe do outro central. Isto origina que existem vários momentos em que há grandes espaços que podem ser aproveitados pelos adversários.
Na maioria das vezes a pressão apenas se iniciava perto da linha de meio-campo e só no final da primeira e início da segunda parte se pôde observar uma tentativa de pressão alta a todo o campo para tentar condicionar a saída de bola que era feita pelo Wigan. A consequência foi um mau passe do guarda-redes do Wigan, uma intercepção e assistência do Mata para um golo em que o Keane apenas teve que empurrar a bola para a baliza, abrindo assim o marcador.
Este foi só o primeiro jogo de treino, portanto a amostra não é significativa para se tirarem conclusões definitivas. Além disso, muitos dos prováveis titulares não estiveram presentes e com maior qualidade, é natural que se possam fazer coisas diferentes. Mas como foi dito anteriormente, procuram-se analisar os princípios que estão por detrás do que se vê em campo.
O Wigan foi uma agradável surpresa. Procurou sempre uma construção apoiada, saindo quase sempre a tocar, o que lhes custou um golo, mas que lhes renderá muitos benefícios se tiverem a coragem que demonstraram contra o Manchester nesta opção de jogo. A diferença de qualidade e algumas limitações técnicas foram visíveis, mas muitas vezes se viram os defesas a progredirem, fixarem e soltarem.
Não se deu pelo famoso Will Grigg que espalhava o pânico na League One, mas Michael Jacobs e Nick Powell, curiosamente este último ex-Manchester United, pareceram ser muito superiores aos colegas e por ventura com potencial para mais altos voos. O guarda-redes internacional finlandês Jaaskelainen apesar do erro no primeiro golo, mostrou uma boa qualidade a jogar com os pés e um elemento fundamental para o estilo de jogo imposto pelo jovem treinador escocês Gary Caldwell.
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