quarta-feira, 20 de julho de 2016

Sporting - notas após o estágio

Os resultados das pré-épocas tendem a ser exagerados pelos adeptos. Trabalhar sobre maus resultados pode traduzir realidades diferentes:

- Adaptação a um modelo de jogo diferente
- Falta de qualidade do plantel
- Confronto contra adversários de qualidade superior ou mais adiantados na preparação
- Desgaste originado pela intensidade dos treinos

Seja qual for o peso destas razões na justificação dos resultados, algo que só o treinador poderá saber com maior exactidão, é observável que houve várias questões diferentes:

- Os guarda-redes que jogaram, talvez pela sua juventude, quando se viram perante resultados adversos, tiveram falhas que derivam da falta de confiança, tão gritantes que foram. Não é possível que o seu nível seja tão baixo quanto o demonstrado, porque nem para a equipa B mostraram ter qualidade. Aze Jug e Stojkovic não mostraram ser soluções caso tenham que avançar para a titularidade.

- Na lateral-direita, João Pereira e Schelotto mostraram não ter ritmo para acompanhar os adversários, pois se por um lado se incorporaram bem no ataque e João Pereira até marcou um golo, na transição defensiva foram sempre ultrapassados. Em organização defensiva, mostraram-se a um nível ligeiramente melhor, basculando quando necessário, apesar de João Pereira se ter deixado antecipar após uma defesa de Stojkovic no que resultaria no terceiro golo do PSV.

- Na lateral-esquerda o desempenho foi muito pobre. Jefferson esteve simplesmente horrível, ultrapassado em transição defensiva, ultrapassado em organização defensiva, muito fraco em organização e transição ofensiva, um estágio par esquecer. Zegelaar embora não tão fraco como Jefferson também não teve um grande desempenho e Bruno César que na época passada foi uma escolha frequente para a posição, mas que neste estágio pouco tempo lá jogou, foi o menos mau dos três jogadores.

- No centro da defesa observaram-se grandes problemas. A generalidade dos jogadores parece ter-se esquecido de como as equipas de Jorge Jesus defendem. Constantes desposicionamentos, demasiada atenção aos adversários directos, poucas coberturas aos laterais, muito espaço entre os centrais, isto sem mencionar más abordagens a alguns lances. Com bola no pé, pouca condução para atrair, poucos passes verticais. Muito trabalho para Jorge Jesus. Coates e Semedo terminaram a época na frente e nada do que os outros jogadores fizeram no estágio, Naldo, Ewerton e Paulo Oliveira, justifica qualquer mudança.

- À frente da defesa, muita falta fez William Carvalho. Petrovic e em especial Palhinha, foram incapazes de proteger o espaço à frente dos centrais deixando entrar demasiadas bolas dentro do bloco permitindo os adversários terem tempo para dar seguimento às jogadas e foram incapazes de oferecer as coberturas aos laterais, fechando o espaço, sempre que estes eram atraídos para as linhas laterais. Como nem o central, nem o trinco ofereciam a cobertura ao lateral, fazendo uma nova linha de contenção, a defesa ficou sempre demasiado exposta. Na reacção à perda da bola, Petrovic foi mais assertivo, embora falhando na maioria dos tempos de entrada o que originou muitas faltas. Palhinha ao invés deixou que os contra-ataques seguissem. Com bola, Petrovic pareceu ser superior, procurando-se associar aos colegas e fazer alguns passes verticais para quebrar as linhas adversárias.

- A posição 8 no modelo de Jorge Jesus é uma posição-chave no modelo, pois implica uma dupla tarefa, na transição ofensiva dar qualidade à saída de bola e na transição defensiva ser capaz de cortar linhas de passe, de compensar o movimento do médio-defensivo e aquando da perda de bola, ter uma forte reacção à perda, fazendo uma imediata pressão na tentativa de recuperação de bola no meio-campo adversário. Também nesta posição muito se sentiu a falta de Adrien. Se por um lado Bryan Ruiz, oferecia maior qualidade na saída de bola, por outro lado a sua falta de agressividade defensiva, fazia com que pouco apoio prestasse ao médio-defensivo que também já andava perdido nas transições defensivas. Aquilani não mostrou grande competência em ambas as tarefas, embora fosse melhor na organização ofensiva. O seu desempenho ficou muito aquém do desejado. Aquando da sua expulsão contra o PSV, Iuri Medeiros teve que ocupar esta posição temporariamente, dos 34 minutos até ao intervalo sentido algumas dificuldades em organização e transição defensiva. Ryan Gauld jogou apenas 8 minutos o que não permitiu ter qualquer ideia sobre o seu enquadramento, apenas que não conta para Jorge Jesus.

- Na ala direita, Gélson Martins destacou-se mais que Iuri Medeiros, no entanto, em momento algum mostrou ter capacidade para disputar o lugar a João Mário. Iuri é mais associativo, ao estilo de João Mário, enquanto Gélson procura mais o desequilíbrio individual. Podence quando desviado para esta posição foi mais refém do mau momento da equipa do que culpado de uma exibição um pouco descolorida quando comparada quando jogou a segundo avançado.

- Na ala esquerda Matheus Pereira e Bruno César também não deslumbraram nem fizeram esquecer o que Bryan Ruiz fez durante a época passada. Matheus Pereira procura mais o desequilíbrio individual, à semelhança de Gélson e à semelhança deste consegue-o fazer com alguma facilidade, embora pareça que depois se acaba por perder em dribles em vez de procurar associar-se com os colegas, criando desequilíbrios colectivos.

- Na frente do ataque brilhou Podence, o único elemento que aproveitou os jogos do estágio para marcar a sua posição. A sua recepção orientada, o mostrar-se para receber dentro do bloco, a procura da profundidade, a visão de jogo, ofereceram a grande maioria dos poucos bons momentos que o Sporting mostrou na Suíça. Alan Ruiz, um pouco pesado mostrou pormenores interessantes, quer em drible, quer na capacidade de remate. Barcos, não mostrou ser um avançado goleador, não se sabendo se porque o Sporting não criou o suficiente para se afirmar, até porque mostrou ser um jogador inteligente que soube associar-se e dar aos colegas as hipóteses de marcarem. Spalvis estava a fazer um jogo muito apagado quando se lesionou com alguma gravidade, pelo que é difícil ter uma opinião. Slimani pareceu não estar com a cabeça na Suíça, sendo um avançado determinante, quer pelo número de golos, quer pelos movimentos que faz no ataque do Sporting, deverá a sua situação ser esclarecida para que, caso fique, volte aos desempenhos da época anterior. Só faltou Teo, que vai participar nos Jogos Olímpicos, embora não considero que se tenha sentido a falta do colombiano, tão bem que Podence jogou como segundo avançado.

Quatro jogos, três derrotas contra equipas do nível Champions de segunda linha e uma vitória contra uma equipa da terceira divisão suiça. Seis golos marcados e catorze sofridos. No campeonato português o Sporting encontrará no máximo seis jogos com o grau de dificuldade que enfrentou na Suíça, pelo que em termos de dificuldade este estágio é pouco relevante para a realidade nacional. As três equipas estavam com níveis de preparação mais avançados, pelo que é natural que essa diferença de preparação se vá atenuando à medida que decorre a pré-época.

Os quatro jogadores que disputaram o Euro, caso não saiam entram sem dificuldade no onze titular e implicam inclusivamente a deslocação de Bryan Ruiz da posição 8 para uma das alas. Sem quaisquer alterações no plantel, é possível acreditar que o onze titular do Sporting no início da época seja:

Patrício;
Schelotto, Coates, Semedo e B. César
William Carvalho, Adrien, João Mário e B, Ruiz
A. Ruiz (Podence) e Slimani

As notícias de hoje indiciam que Jorge Jesus estará insatisfeito e já terá definido alvos específicos para reforçar algumas posições, pelo que é possível que o presente quadro deixe de estar válido aquando a época comece. Além disso, todos os dias há notícias sobre eventuais saídas de jogadores. Não havendo alterações significativas, não existe razão para que o Sporting apresente um nível diferente do que o demonstrado quando acabou a época passada, pelo que os resultados de pré-época pouco relevantes são, excepto para as conversas de adeptos.

Edit: Ryan Gauld foi emprestado conjuntamente com André Geraldes ao Vitória de Setúbal confirmando a ideia que efectivamente não conta para Jorge Jesus

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