segunda-feira, 11 de julho de 2016

Campeões Europeus

E a final ganhou-se, com um golo do Éder no prolongamento. O primeiro título significativo do futebol português de selecções de que me lembro foi a vitória em Riad. No jogo da final, um lateral-direito, cujo pé esquerdo apenas servia para subir no autocarro, de nome Abel Silva, marcou o primeiro golo com um remate fantástico de pé esquerdo. Provavelmente nunca fez outro golo igual, mas de certeza que nunca fez outro golo tão importante. Abel Silva era um jogador mediano, mas que se calhar nunca teve a oportunidade de evoluir. Apesar de ser formado no Benfica, essa final de Riad foi o ponto mais alto da sua carreira.

Éder não é um talento, nem nunca o será. É um jogador esforçado e marcou um golo que o deixará para sempre na história do futebol português. Ainda nesta época, depois de uma primeira parte da época miserável no Swansea, foi cedido ao Lille onde teve a oportunidade de jogar com continuidade. Para os adeptos do clube galês, é um dos maiores flops de sempre, mas para os portugueses ficará ligado ao ponto mais alto, até agora, da história do futebol português de selecções.

O futebol é um jogo de detalhes. Num jogo cujos pontos para ganhar, golos, são tão difíceis de obter, às vezes basta um detalhe para que o jogo se resolva. Numa competição a eliminar, esses detalhes tornam-se mais relevantes, bem como a sorte do jogo. No período de descontos do tempo regulamentar, Gignac sentou o Pepe, rematou, a bola passou pelo Patrício que, até aí tinha feito um par de grandes defesas e apenas o poste impediu que o destino de 1984 e 2000 se repetisse. A sorte bafejou Portugal. É certo que no prolongamento o Raphael Guerreiro também acertou na trave na cobrança de um livre, mas se a sorte não estivesse com Portugal, dificilmente teríamos chegado ao prolongamento.

A forma deficiente como Koscielny e Umtiti abordaram o lance, não retira o mérito à forma como o Éder rematou. Um grande remate, um grande golo, um orgasmo colectivo de um povo que encontrou razões para acreditar no futuro.

O futuro, o futuro do futebol português não pode continuar como até aqui. Se esta vitória servir para validar tudo o que a Federação Portuguesa de Futebol não faz pelo desenvolvimento do futebol em termos de base, então a vitória será muito negativa. Esta selecção representa o trabalho dos jogadores que evoluíram nos grandes clubes internacionais e o trabalho dos grandes clubes portugueses nas suas academias. A Federação que se deveria preocupar em criar condições para que a prática se generalize permite que as Associações cobrem inscrições de jogadores cujos valores dificultam a vida aos pequenos clubes o que os obriga muitas vezes a afastar jovens jogadores cujos pais não tenham meios económicos para pagar as despesas da prática do futebol.

Fora de Lisboa e do Porto, em especial nos distritos mais afastados, há muitos clubes que lutam todos os dias, com muita carolice para que os jovens dessas áreas possam praticar desporto, nomeadamente, jogar futebol. Os próprios técnicos, cuja formação deveria ser uma preocupação da federação, não encontram as condições para que se aproveitem os cursos/formações, andando mais à procura dos créditos necessários do que de aprender nem que seja com a partilha de experiências. Os campeonatos jovens continuam a ser muito desequilibrados levando a que os clubes de topo tenham não mais de 10 jogos equilibrados ao longo de uma época, seja nos nacionais, seja mesmo em termos distritais.

Enquanto estas vitórias não servirem para mais do que para aumentar a auto-estima e continuarem a validar o que de mau se continua a fazer na Federação, dependeremos sempre quer do talento individual de uma ou duas dezenas de jogadores e do que os três grandes fizerem a nível de formação. Que esta não seja um vitória de Pirro.

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