quinta-feira, 28 de julho de 2016

Benfica-Torino - Eusébio Cup

Existem muitos espaços que abordam a temática do significado do jogo de ontem para a Eusébio Cup. Aqui, a preocupação é olhar para a táctica e perceber como pode evoluir a equipa de Rui Vitória que tem alternado boas exibições com outras menos conseguidas, independentemente do nível de dificuldade teórica dos adversários que defrontou. O Torino é uma equipa do meio da tabela da Série A, que começou a pré-época mais tarde que o Benfica e que portanto seria expectável que não constituísse um grande obstáculo depois da sólida exibição que o Benfica teve na Áustria contra o Wolfsburgo.

Benfica 4-4-2
Paulo Lopes (Júlio César 45')
Nélson Semedo (André Almeida 45'), Luisão, Lisandro (Lindelof 64') e Grimaldo
Fejsa (Samaris 45'), André Horta (Benitez 64'), Salvio (Pizzi 45') e Cervi (Carrillo 45')
Gonçalo Guedes (Jonas 64') e Mitroglou (Jiménez 45')

Torino 4-3-3
Gomis (Padelli 60')
Zappacosta (Bruno Peres 73'), Maksimovic (Ajeti 80'), Molinaro (Barreca 80') e Moretti (Gastón Silva 73')
Vives (Gazzi 60'), Afriyie (Aramu 73') e Obi (Baselli 46')
Ljajic (Boyé 73'), Falque (Martinez 60') e Belotti (Maxi Lopez 60')

1-0 Vives (autogolo) 11', 1-1 Ljajic 32'

Assumindo naturalmente o favoritismo o Benfica entrou ao ataque. Mesmo sem criar grandes ocasiões, a bola rondava a área do Torino e o golo acabou por surgir de forma natural, embora como resultado de um grande falhanço do guarda-redes Gomis e de uma má abordagem do defesa Vives que tentando impedir o golo de Mitroglou acabou por fazer o autogolo.

O Benfica continuou a pressionar, mas sem grande esclarecimento e começando a denotar falhas de concentração na fase da construção. Primeiro Guedes e depois Fejsa perderiam bolas em zonas de perigo e no segundo caso o lance terminou com uma falta de Lisandro do qual nasceria o golo do Torino. A opção por este onze trouxe mais verticalidade ao futebol do Benfica, mas sempre por fora do bloco, o que necessariamente contribuiu para uma menor influência de André Horta na movimentação ofensiva.

Ao invés de Horta, Semedo e Grimaldo estiveram em destaque pelo jogo que carrilaram pelas laterais, mas sem que depois isso se traduzisse na criação de quaisquer oportunidades relevantes. Salvio, perante um adversário mais bem posicionado defensivamente voltou a mostrar grandes dificuldades em desequilibrar e Cervi continua sem perceber muito bem como se enquadrar no onze.

A opção por Guedes é perniciosa para o jogo de ataque do Benfica. Guedes procura sempre ser solicitado na profundidade e a única forma de verdadeiramente desequilibrar é quando se junta ao lateral e ao extremo, em especial do lado direito, garantido uma superioridade na ala. O problema é que esses desequilíbrios e essas superioridades obtidas na ala, implicam uma menor presença no corredor central e consequentemente menor possibilidades de criar perigo, a menos que estes deslocamentos sejam compensados com o movimento interior para ocupar o espaço clareado. Pizzi e Almeida sempre o souberam fazer com Jonas quando este arrastava os centrais para o corredor lateral, que depois de os enganar, rapidamente voltava ao corredor central em vez de procurar a linha de fundo como faz Guedes. Semedo e Salvio, ao não fazerem este movimento interior, tornam muito mais complicada a missão de desequilibrar defesas muito compactas.

Quando joga, Pizzi procura movimentos interiores onde faz a aproximação ao avançado ou se constitui como uma linha de passe adicional dentro do bloco. Na época passada, além de Pizzi, também Gaitán fazia estes movimentos pelo que para além dos dois avançados, o Benfica tinha quase sempre estes jogadores a dar linhas de passe disponíveis dentro do bloco. Com Guedes a procurar a profundidade, Salvio a jogar pelo flanco e Cervi ainda sem perceber muito bem que terrenos pisar, apenas Mitroglou é solução, ou seja, o Benfica fica condenado a jogar por fora, sendo muito menos perigoso para adversários relativamente bem posicionados em termos defensivos.

Na segunda parte, com Pizzi e Carrillo, o Benfica ganhou mais soluções dentro do bloco e existiram mais movimentos de fora para dentro. Porém, Mitroglou tem muito mais cultura de posicionamento que Jiménez, gosta de deambular pelo terreno de jogo, procurando também muitos movimentos de rotura aproveitando a sua velocidade. O problema de Pizzi continua a ser que o nível de decisões tende a cair a pique conforme se aproxima da baliza e pensa poder ter oportunidade de marcar. Já no jogo contra o Porto na Luz, Pizzi optou sempre por rematar em vez de passar para os colegas melhor posicionados para finalizar. Este comportamento dual, muito critério na criação e pouco critério na finalização prender-se-á, por ventura, com a falta de confiança que o jogador sente do treinador, isto é, com a iminência de perder a titularidade.

Em termos defensivos, apesar do bloco alto estar a funcionar relativamente bem, o Benfica continua a mostrar alguns problemas com a reacção ao jogo, isto é, os jogadores demoram a orientar os apoios em função das situações de jogo e como o Benfica opta por uma defesa estreita, as variações de flanco criam desequilíbrios devido ao tempo que a defesa do Benfica demora a bascular. Esta situação agrava-se com o perfil mais ofensivo de Semedo e principalmente Grimaldo.

Lindelof e Jonas continuam fora de forma não sendo, portanto, ainda opções para o onze principal, pelo que a qualidade que poderiam trazer ao jogo do Benfica continua ausente. Luisão mostrou estar atento e comandar bem a defesa nos movimentos de subida e descida, mas a sua falta de velocidade de deslocação será um risco muito grande frente a equipas que saibam fugir à armadilha do fora-de-jogo. Com laterais ofensivos, os centrais têm que possuir uma grande leitura de jogo e velocidade de deslocação.  A Lisandro falta a primeira, a Luisão, falta a segunda.

Falta pouco mais de uma semana para a Supertaça e não nos parece que a contratação de Danilo possa vir resolver as questões que neste momento se afiguram mais presentes, a falta de opções para jogo interior em organização ofensiva e uma dupla de centrais que consiga ler o jogo atempadamente em função do bloco alto utilizado e que tenha velocidade de deslocamento para compensar o espaço atrás dos laterais em organização/transição defensiva.

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