sexta-feira, 15 de julho de 2016

Benfica-Vitória de Setúbal

Primeiro jogo público da época do Benfica frente a um Vitória de Setúbal que aparenta estar num momento similar da pré-época. O mais significativo foram as diferenças de forma entre alguns dos jogadores do Benfica. Tacticamente, também existe uma grande assimetria entre a organização ofensiva e a organização defensiva, sendo que no segundo momento muitas das ideias da época passada parecem já estar consolidadas.

As equipas alinharam com:

Benfica
Paulo Lopes
Nélson Semedo (Almeida 45'), Luisão (Kalaica 45'), Jardel (Lisandro 45') e Grimaldo (Reinildo 76')
Fejsa (Cellis 64'), João Teixeira (André Horta 45'), Pizzi (Salvio 45') e Carrillo (Chuky 45')
Guedes (Benitez 45') e Jovic (Rui Fonte 45')

Vitória de Setúbal
Varela
Gorupec (Gonçalo Duarte 45'), Frederico Venâncio, Fábio Cardoso (Vasco Fernandes 45') e Nuno Pinto (Ruca 45')
Fábio Pacheco, Nene Bonilla (Alexandre 79') e Costinha (Mohcine 68')  
João Amaral (Vasco Costa 45'), Nuno Santos (Arnold 45') e  André Claro (Thiago Santana 45') (Meyong 83')

O Benfica voltou a alinhar com o seu 4-4-2 habitual, com um avançado mais adiantado Jovic e um avançado mais móvel e a recuar para vir buscar jogo, Gonçalo Guedes

 Em termos de organização defensiva, a equipa parece já conhecer as ideias do treinador:

- bloco médio-alto para tornar a equipa compacta a defender
- razoável domínio da técnica da linha defensiva
- equipa relativamente estreita, com basculações para o lado da bola, sendo a largura garantida pelo extremo do lado contrário
- centrais a pegarem nos avançados quando estes invadem a sua área e a compensação a ser efectuada pelos médios centrais, preferencialmente Fejsa, mas também João Teixeira
- grande reacção à perda da bola, o que leva uma pressão alta, se bem que nem sempre feita
- marcação à zona nas bolas paradas defensivas
- sobrecarga de jogadores na zona onde é expectável que a bola caia vindo de lançamentos laterais ou pontapés de baliza com o intuito de ganhar as segundas bolas

Para duas semanas de trabalho, mostram um domínio muito razoável destes conceitos embora ainda existam alguns pontos a melhorar:

- a pressão alta nem sempre é bem efectuada, visto que é mais à bola em vez de às linhas de passe e consequentemente uma equipa que troque bem a bola poderá passar esta primeira linha de pressão e aparecer no contra-ataque em superioridade numérica
- os centrais ao seguirem os avançados que caem na sua zona e os arrastam para a linha lateral, criam temporariamente um espaço muito grande no corredor central porque um dos centrais, Luisão, não ajusta a sua posição e obriga a que ambos os médios defensivos cubram essa área, o que nem sempre será possível fazer com a celeridade necessária
- dois dos centrais, Luisão e Lisandro, estão, muitas vezes, a afundar a linha, não reagindo correctamente ao jogo e com pouca coordenação, o que origina a criação de espaço nas costas dos outros elementos da defesa, se bem que penso que a entrada de Lindelof que tem o perfil de líder, poderá resolver esta questão

No entanto, ofensivamente, as coisas estão muito mais atrasadas. É certo que os principais avançados, Jonas e Mitroglou ainda pouco tempo de trabalho têm com a equipa. Além disso, Carrillo e Zivkovic estiveram muito tempo parados e Benitez e Chuky Cervi estão apenas a começar a trabalhar na Europa e com Rui Vitória. Além disso, Jovic pareceu estar demasiado pesado.

A jogar Jonas pede coisas à equipa que mais ninguém o faz, pois aparece constantemente dentro do bloco a dar linhas de passe, incentiva os extremos a virem para dentro e combina com eles, arrasta defesas para a lateral, clareando espaços para os extremos ou os laterais entrarem na área com a bola dominada e em boas condições de finalizar. Já Mitroglou é uma referência para o jogo aéreo, para segurar a bola e esperar pelos colegas, faz apoios frontais com qualidade dentro do bloco adversário, tem movimentos de arrastamento dos centrais semelhantes aos de Jonas. Além destes movimentos, qualquer um destes avançados tem uma boa capacidade de finalização.

Sem nenhum destes elementos em campo, a organização ofensiva caracterizou-se essencialmente por:

Na fase da construção:

- Saída a três, através do recuo de Fejsa ou para o meio dos centrais, ou para a posição mais à esquerda da defesa e projecção assimétrica dos laterais com a bola a entrar no lateral mais projectado
- Caso essa saída não funcionasse, Fejsa retomava o corredor central, João Teixeira/André Horta recuavam para irem buscar a bola ao círculo central e distribuírem para o lateral mais projectado ou para um dos extremos

Na fase da criação:

- combinações no corredor lateral com extremos por dentro e laterais por fora, ou vice-versa, tentando criar desequilíbrios a partir da ala, fosse para ganhar a linha de fundo (situação preferencial), fosse para procurar o avançado do lado da bola para criar combinações interiores (situação menos frequente mas criadas essencialmente por Pizzi do lado direito e Grimaldo e Cervi do lado esquerdo)

Na fase de finalização:

- remates de fora da área e cruzamentos, muitas vezes sem qualquer sentido e estragando muitas jogadas
- combinações curtas dentro bloco a terminarem com busca da profundidade no meio-espaço entre o corredor central e o corredor lateral que permitissem remates cruzados

Há muito para trabalhar em organização ofensiva porque para além de muitos elementos estarem fora de forma e portanto menos móveis que o exigível, foram acumulando muitos erros técnicos (maus passes, deficientes recepções, dribles sem sucesso, remates mal-executados) derivados quer da fase da época, quer da falta de soluções.

Conforme foi abordado no post anterior, terão que existir ainda muitas mudanças no plantel do Benfica, com a saída de vários jogadores e quiçá a entrada de mais um ou dois, pelo que se tornará difícil mesmo para Rui Vitória trabalhar certos aspectos da organização ofensiva.

No Benfica destacaram-se Fejsa e Grimaldo na primeira parte e Cervi e Cellis na segunda. Depois houve jogadores que tiveram alguns pormenores que deixaram antecipar que com maior conhecimento das ideias da equipa, com outros colegas no ataque e estando em melhor forma física poderão dar coisas muito interessantes à equipa: Carrillo, Jovic e Horta. Cellis terá que se acautelar com as entradas que faz, pois num jogo a sério, este tipo de entradas facilmente dá origem a amarelos. Infelizmente não pudemos ver Zivkovic em acção.

Mas também existiram exibições muito pobrezinhas em especial de Salvio, Pizzi e André Almeida. Desde a lesão que Salvio parece ter perdido a explosividade que lhe assegurava os desequilíbrios que criava. Salvio nunca foi muito bom na questão da decisão com bola mas sempre compensou com a sua excepcional capacidade física. Está em clara crise de confiança, porventura exacerbada pela incapacidade em desequilibrar fisicamente. Seria uma boa altura para tentar mudar o perfil de jogo, procurando associar-se mais aos colegas no corredor central e tentando menos desequilibrar na ala, mas será que aos 25 anos um jogador é capaz de mudar de perfil?

Pizzi e André Almeida, por ventura devido à senioridade dentro da equipa, abalançaram-se a fazer coisas para as quais claramente não têm capacidade. Se houve algo que sempre se destacou nestes jogadores foi a sua capacidade para perceberem as suas limitações e jogarem com isso. Quando não o fazem, somam-se más decisões e tornam-se prejudiciais à equipa.

Gonçalo Guedes e João Teixeira deveriam ser emprestados a equipas onde possam jogar com continuidade e onde exista um treinador os ajude a perceber que o futebol é um jogo colectivo e que devem sempre tentar perceber o que o jogo pede antes de decidirem tentar brilhar individualmente. Têm potencial para mais do que são actualmente. São novos e podem ainda evoluir no entendimento do jogo. Se não o fizerem, em dois, três anos deixarão definitivamente de poder fazer carreira no Benfica. O jogo deve-se jogar de cabeça levantada, como faziam Rui Costa ou Aimar e não com a cara virada para o chão e sem qualquer noção espacial quer de colegas quer de adversários.

Quanto ao Vitória de Setúbal pareceu, na primeira parte, ser uma equipa interessante que procura sair com a bola controlada a partir do seu triângulo de meio-campo com Fábio Pacheco como médio defensivo e Nené Bonilla e Costinha como interiores. Defensivamente, organizam-se em bloco baixo mas com toda a equipa cerca de 35 metros, o que dificultará a tarefa de equipas que não consigam fazer boas trocas de bola. Na segunda parte, talvez fruto das alterações, pouco ou nada se viu ao Vitória de Setúbal, com excepção de um livre, aos 79 minutos, sobre a direita que deu origem a uma finalização dentro da área do Benfica que com maior acerto poderia ter dado golo.

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